Hoje pela manhã o café não desceu e o coração ficou apertado ao assistir o vídeo de uma afegã dizendo que ninguém se preocupava com as mulheres do Afeganistão. “Morreremos lentamente na história”, desabafou. Olhei para o lado e vi minha mala, quase pronta para uma nova viagem. Lembrei de todas as vezes que ouvi: “Vai sozinha?”, “Mas sem namorado/marido?” ou “Não tem medo?”. Para todas as perguntas, eu respondia (e ainda respondo): “Eu sou livre”. No entanto, me dói proferir essa frase neste dia.
Liberdade é uma palavra que ~ mesmo lentamente ~ estava sendo conquistada pelas mulheres afegãs até o Talibã tomar o poder do país novamente no domingo (16.08). O grupo extremista governou o país de 1996-2001, antes de ser derrubado por uma campanha liderada pelos Estados Unidos após os ataques de 11 de setembro.


De acordo com dados do Departamento de Estado dos Estados Unidos de 2019, mais de 3,5 milhões de mulheres estão matriculadas em escolas primárias e secundárias e 100 mil frequentam universidades. Estima-se ainda que 85 mil afegãs trabalhem como professoras, advogadas, autoridades policiais e na área da saúde. E mais de 400 concorreram a cargos políticos em eleições realizadas em 2018.
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Como era o Afeganistão com o Talibã?
Quando o Talibã governou o Afeganistão pela última vez, de 1996 a 2001, as meninas não podiam frequentar escolas, mulheres eram proibidas de trabalhar e para sair de casa precisavam cobrir o rosto e estar acompanhadas por um parente do sexo masculino. A punição para quem não respeitasse as leis? Humilhações, espancamentos em público e execuções.
Com a retomada do grupo ao poder, o país já parece ter regredido. Segundo relatos de afegãs nas redes, muitas mulheres tiveram que deixar seus empregos. Combatentes do Talibã portando armas invadiram bancos, mercados e empresas mandando que elas retornassem às suas casas. Elas foram substituídas por parentes do sexo masculino.
A mulher como escrava
Combatentes do Talibã já estão batendo de porta em porta e OBRIGANDO garotas de 12 anos a se casarem com eles, enquanto comandantes jihadistas ordenam que se criem ‘listas de casamento’ e que famílias ofereçam meninas para servidão sexual.
Eu não consigo mensurar a dor dessas mulheres e o desespero de perder o pouco que já haviam conquistado. Me sinto de mãos atadas, sem ter o que fazer… Apenas uma certeza me envolve: não quero ser alienada. Me esforço para aprender, conhecer e passar adiante a história para o maior número de pessoas (especialmente mulheres) possíveis. Todos deveriam fazer o mesmo. Desbravemos não só países, mas histórias.
Li um texto necessário da Professora @debora_d_diniz. Em um trecho, ela diz: “Não silencio. Não viro a página. Não banalizo… Assim, o que fazer? Escrever se esse for seu jeito; doar a organizações humanitárias, se você tem recursos; estudar com outros para formar grupos de aprendizado. O que nunca deve fazer é deixar-se ser cínico à tragédia dos outros.”